Sadismo
O que é de minha
humanidade?
Minha loucura tirou meu
melhor
E eu fantasio apenas o
pior
Para alimentar minha insanidade
Eu imagino o sofrimento
Nas curvas de seu sorriso
No mais longínquo abismo
Eu ouço seu choro de lamento
Tome esta pá, coveiro
Eu quero que me enterre vivo
Mas me tire desse abismo
Tome esses restos, carniceiro
Não deixe essa lâmina enferrujar
Para minha loucura nunca curar
Suicídio
Ela está pensando em se matar
Seu corpo está emerso no lago
O chão seus pés não podem tocar
Está pensando em seu estrago
Não se lembre de suas virtudes
Sua respiração ela pode ouvir
Tão frio e duro como suas atitudes
Agora ela consegue dormir
Ela já me amou um dia
Ou assim a fiz pensar
Todos estão no alcatrão
Assim como o fumante com nicotina
Todos são viciados em amar
E isso é mais um palavrão
Observe
Você está perdido na fumaça
Dos corpos que queimou
A fuligem entra pela sua boca
O câncer corrói seus pulmões
Tua carne é comida pela praga
Que tua filha criou
Teus gritos a deixam louca
Isso consome os pulmões
Olhe para a serpente
Que alimentou no seio
Olhe para o parente
Que guardou no peito
Eles gozam de tua agonia
Não há nenhum ar livre de fumaça
Quebre esses elos e te enfureça
Mostre esse demônio na fumaça
Milagre
Maldito seja o leite que mamei
Maldito o ventre que me produziu
E todos aqueles a quem mentiu
Porque ao teu chicote me apeguei?
Teu filho foi nutrido com sangue
Mesmo do mais nobre
Ele quer beber do meu sangue
Mesmo do mais pobre
Sangre teu maldito veneno
Que tua voz solta
Sobre tua amada morta
Declame teu soneto nojento
O frio tira a vida da Terra
Essa névoa fede a enxofre
Tudo piora perto da serra
E o que fica é frio e podre
Corvos
Ser de asas negras
Que voa acima da carniça
Ave de penas pretas
Que sobrevoa a carne apodrecida
Quando ele é avistado
Trás o anuncio da morte
Ele é visto pelo homem listrado
E pelo guerreiro bravo e forte
São mensageiros das trevas
Voam acima da batalha
Se fartam com a carne da mortalha
Trazem um cheiro de podre
Tal como o enxofre
E da morte gralham sobre
Seu bico fura a carne fraca
E ela entra como uma faca
Os espantalhos tentam afastar
Mas dos restos estão a se fartar
Seu gralhar os moribundos podem ouvir
Almas penadas para eles estão a sorrir
Seus olhos podem ver tudo
Da podridão ele limpa o mundo
Corvo, ave de cor negra
Seu choro ecoa pela igreja
Corvo, ser de atos sombrios
Coma esses restos frios
Universo
O frio cósmico
flagela
O calor das estrelas
não basta
Essa galáxia congela
Morte também tem sua
graça
Estou aqui nesse
mundo
Com bilhões de anos
de idade
Essas explosões me
deixam surdo
Cômico é toda essa
maldade
Algo emerge nos
abismos celestes
Silencioso e rápido
como uma cobra
Que desliza na grama
dos estepes
Pavimentando tudo o
que sobra
Gargantas foram
cortadas pela faca
Assim que regresso de
meu retiro
É assim que o
universo acaba
Não com um estouro,
mas com um suspiro
Cansaço
Com o vinho ao meu lado
Um olhar frio e pesado
Tinta e pena como fardo
Sinto-me muito mudado
Sentado em uma solidão
Acompanhado da podridão
E a música de um vilão
Olho para essa vil situação
Cada verso é curto e assimétrico
Mas nenhum pouco eclético
Então que seja estético
A grande carreira dos mortos
Que deixa dizeres tortos
Nos já fadados portos
Aguardo
Através dessa montanha
Do qual não posso escalar
Há um vale tão fundo
Que o Sol não pode iluminar
As estrelas são minha companhia
Enquanto olho a parede de pedra
Que sempre tento subir
Caí e quebrei ossos e sonhos
Mas não estou sozinho aqui
Apesar de me sentir assim
Vários fantasmas e monstros
Observam minha agonia
Estou ferido, com várias dores
Além de escrever com sangue
Essas palavras que enviarei
No bico de uma ave moribunda
Dores
Filhos da Noite
Nascidos na lua cheia
Assombrados pelo silêncio
Alimentados com cinza de corpos
Filhos da Noite
Adoradores da lua cheia
Acompanhados pelo silêncio
Besuntados com sangue de corpos
Na noite sem estrelas
Onde as nuvens pesam
Respiro um vento frio
Que faz meu pulmão doer
Na noite sem estrelas
Quando as almas pesam
Sou cortado com ar frio
Que faz meu coração doer
Dói demais essa noite
Do qual meus filhos nasceram
Ninguém poderá intervir
Nessa loucura
Dói demais essa noite
Do qual meus inimigos nasceram
Eu não posso intervir
Nessa loucura
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