sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Coletânea de Poemas

Sadismo

O que é de minha humanidade?
Minha loucura tirou meu melhor
E eu fantasio apenas o pior
Para alimentar minha insanidade

Eu imagino o sofrimento
Nas curvas de seu sorriso
No mais longínquo abismo
Eu ouço seu choro de lamento

Tome esta pá, coveiro
Eu quero que me enterre vivo
Mas me tire desse abismo

Tome esses restos, carniceiro
Não deixe essa lâmina enferrujar
Para minha loucura nunca curar






Suicídio

Ela está pensando em se matar
Seu corpo está emerso no lago
O chão seus pés não podem tocar
Está pensando em seu estrago

Não se lembre de suas virtudes
Sua respiração ela pode ouvir
Tão frio e duro como suas atitudes
Agora ela consegue dormir

Ela já me amou um dia
Ou assim a fiz pensar
Todos estão no alcatrão

Assim como o fumante com nicotina
Todos são viciados em amar
E isso é mais um palavrão


  



Observe

Você está perdido na fumaça
Dos corpos que queimou
A fuligem entra pela sua boca
O câncer corrói seus pulmões

Tua carne é comida pela praga
Que tua filha criou
Teus gritos a deixam louca
Isso consome os pulmões

Olhe para a serpente
Que alimentou no seio
Olhe para o parente
Que guardou no peito

Eles gozam de tua agonia
Não há nenhum ar livre de fumaça
Quebre esses elos e te enfureça
Mostre esse demônio na fumaça






Milagre

Maldito seja o leite que mamei
Maldito o ventre que me produziu
E todos aqueles a quem mentiu
Porque ao teu chicote me apeguei?

Teu filho foi nutrido com sangue
Mesmo do mais nobre
Ele quer beber do meu sangue
Mesmo do mais pobre

Sangre teu maldito veneno
Que tua voz solta
Sobre tua amada morta
Declame teu soneto nojento

O frio tira a vida da Terra
Essa névoa fede a enxofre
Tudo piora perto da serra
E o que fica é frio e podre






Corvos

Ser de asas negras
Que voa acima da carniça
Ave de penas pretas
Que sobrevoa a carne apodrecida

Quando ele é avistado
Trás o anuncio da morte
Ele é visto pelo homem listrado
E pelo guerreiro bravo e forte

São mensageiros das trevas
Voam acima da batalha
Se fartam com a carne da mortalha

Trazem um cheiro de podre
Tal como o enxofre
E da morte gralham sobre

Seu bico fura a carne fraca
E ela entra como uma faca
Os espantalhos tentam afastar
Mas dos restos estão a se fartar

Seu gralhar os moribundos podem ouvir
Almas penadas para eles estão a sorrir
Seus olhos podem ver tudo
Da podridão ele limpa o mundo

Corvo, ave de cor negra
Seu choro ecoa pela igreja
Corvo, ser de atos sombrios
Coma esses restos frios





Universo

O frio cósmico flagela
O calor das estrelas não basta
Essa galáxia congela
Morte também tem sua graça

Estou aqui nesse mundo
Com bilhões de anos de idade
Essas explosões me deixam surdo
Cômico é toda essa maldade

Algo emerge nos abismos celestes
Silencioso e rápido como uma cobra
Que desliza na grama dos estepes
Pavimentando tudo o que sobra

Gargantas foram cortadas pela faca
Assim que regresso de meu retiro
É assim que o universo acaba
Não com um estouro, mas com um suspiro




Cansaço

Com o vinho ao meu lado
Um olhar frio e pesado
Tinta e pena como fardo
Sinto-me muito mudado

Sentado em uma solidão
Acompanhado da podridão
E a música de um vilão
Olho para essa vil situação

Cada verso é curto e assimétrico
Mas nenhum pouco eclético
Então que seja estético

A grande carreira dos mortos
Que deixa dizeres tortos

Nos já fadados portos 




Aguardo

Através dessa montanha
Do qual não posso escalar
Há um vale tão fundo
Que o Sol não pode iluminar

As estrelas são minha companhia
Enquanto olho a parede de pedra
Que sempre tento subir
Caí e quebrei ossos e sonhos

Mas não estou sozinho aqui
Apesar de me sentir assim
Vários fantasmas e monstros
Observam minha agonia

Estou ferido, com várias dores
Além de escrever com sangue
Essas palavras que enviarei
No bico de uma ave moribunda 




Dores

Filhos da Noite
Nascidos na lua cheia
Assombrados pelo silêncio
Alimentados com cinza de corpos
Filhos da Noite
Adoradores da lua cheia
Acompanhados pelo silêncio
Besuntados com sangue de corpos

Na noite sem estrelas
Onde as nuvens pesam
Respiro um vento frio
Que faz meu pulmão doer
Na noite sem estrelas
Quando as almas pesam
Sou cortado com ar frio
Que faz meu coração doer

Dói demais essa noite
Do qual meus filhos nasceram
Ninguém poderá intervir
Nessa loucura
Dói demais essa noite
Do qual meus inimigos nasceram
Eu não posso intervir

Nessa loucura

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